Diariamente, milhentas cartas e incontáveis e-mails atulham
as nossas caixas de correio. São muitos os pedidos, como “já é tempo de ter o
Caio Júnior por aqui!”, “exijo uma recontagem das sílabas do Panandetiguiri!”
ou “façam amor com as nossas esculturais esposas, por favor!” (este último
pedido geralmente acompanhado por um vídeo sugestivo), mas há um pedido em
particular que sobressai:
- “Mestres da cromicidade, quem foi o Mazo?”
Pois bem. A confusão é compreensível e Mazo um nome dos mais
enigmáticos do futebol português da década de 90. Se procurarmos por “Mazo” no Google
Images, o que nos poderá surgir é isto:
Temos aqui o pontapé de saída. Mazo era um centrocampista
cuja técnica subtil se assemelhava a um rudimentar martelo de madeira. Mas vós
quereis mais que uma simples metáfora, desejais tocar no âmago da questão como
Luisões esbaforidos em direcção ao árbitro. Procurando um pouco mais, talvez
vos depareis com este simpático senhor:
Pelo aspecto, até podia ser o Mazo que buscáveis. Mas não,
este é somente um homónimo bielorrusso do Mazo que vós procurais. Um Mazo filarmónico,
um pedagogo transcontinental, um bigode em si bemol. Estamos perto. O Mazo que
pretendeis é este, senhores:
Oficialmente, Mazo responde pelo nome de Josemar Araújo
Santos e é o tipo da esquerda; pelo sim, pelo não, também colocámos o Danny
Trejo, pois podia subsistir a ideia de que o Danny é a versão envelhecida do
vigoroso Mazo dos tempos áureos do Estrela da Amadora na Divisão-mor do nosso
estimado campeonato.
Tempos áureos… e também tempos geriátricos.
Mazo era conhecido como o pistoleiro de Timbaúba, algures
entre Camutanga e Macaparana, lá no Planalto da Borborema, em Pernambuco;
Timbaúba, a terra de todos os sonhos, uma Sirinhaém em ponto maior, porém não
tão grande quanto Jaboatão dos Guararapes. Ainda jovem, nem com 25 Outonos cumpridos,
rubricou em 1994/95 a sua segunda e última época na terra outrora conhecida
como Porcalhota (é verdade, até veio n´”Os Maias” e tudo – consultem os vossos
Apontamentos Europa-América), completando assim uma torrente de toponímias
esquisitas que lhe adocicaram o currículo.
Um benjamim, portanto. Naquele plantel, tal como num certo
país atlântico nos dias de hoje, isso era presságio de desgraça. Atente-se nalguns
outros bebés daquele plantel: Calado (palavras para quê?); Gil Gomes (é
verdade, esse mesmo); João Peixe (primo do Emílio e que representou mais clubes
do que aqueles que humanamente conseguiríamos reproduzir num único post);
Tico-Tico (um moçambicano que prometia fazer cócegas à grandeza de Eusébio e
que, estranhamente, nem sequer ficou para a história pelo inusitado do seu
nome); Christian (teve de fugir dali enquanto era tempo mas ainda demorou
alguns anos a recuperar do choque) e Paulo Ferreira (provavelmente, o extremo
mais anafado de toda a história).
Decididamente, aquele clube não era para novos. A menos que
se chamassem Rui Neves. Porque se se chamassem Birame, o mais certo era
acabarem a vender artesanato senegalês na feira.
Aquele era o clube de Hubart (o Chilavert à moda da
Bélgica), de Rebelo (o eterno estrelista que ainda hoje bateu à porta do
Estádio José Gomes a pedir para treinar), do Senhor Bigode (leia-se Agatão) e
também de Fonseca, Paulinho, Edmundo, Quim Machado, Fernando e Rui Águas –
nenhum deles com menos de 28 anos e alguns com mais de 35 (o Rebelo já devia ir
nos 55). Era um plantel com muita tracção defensiva e onde Mazo sentiu
inesperadas dificuldades em assentar todo o seu reportório de maus tratos no
esférico, certamente inibido pelo fulgor de um Taira, que fazia olhinhos
marotos à Selecção, de um Koncalevic que possuía um nome balcânico que abafava aos
pontos a singeleza da sua alcunha, ou de um superlativo Mário Jorge, que
conseguiu a proeza de assinar pelo Sporting e Benfica sem nunca jogar nenhuma
partida pelos dois.
Era o destino a empurrar Mazo para fora da ribalta e Mazo
não foi contra o destino. Abraçou-o e, mal saiu da Amadora, desatou a correr
clubes que ficassem, de preferência, na confluência dos distritos de Santarém e
Portalegre – que, como todos sabemos, sempre produziram futebol condizente com
o gabarito de Mazo. Por ali se deixou ficar como treinador. Sucumbiu à voragem
dos tempos e disse adeus ao bigode. Agora, pode festejar os títulos distritais que
quiser, mas, sem bigode, já não tem graça. O Danny Trejo é que a sabe toda.
Quanto ao Estrela, todos desejamos a sua recuperação. Até
mesmo um conhecido galã da nossa praça:
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