sexta-feira, agosto 17, 2012

Pão Que O Diabo Amazou


Diariamente, milhentas cartas e incontáveis e-mails atulham as nossas caixas de correio. São muitos os pedidos, como “já é tempo de ter o Caio Júnior por aqui!”, “exijo uma recontagem das sílabas do Panandetiguiri!” ou “façam amor com as nossas esculturais esposas, por favor!” (este último pedido geralmente acompanhado por um vídeo sugestivo), mas há um pedido em particular que sobressai:

- “Mestres da cromicidade, quem foi o Mazo?”

Pois bem. A confusão é compreensível e Mazo um nome dos mais enigmáticos do futebol português da década de 90. Se procurarmos por “Mazo” no Google Images, o que nos poderá surgir é isto:

Temos aqui o pontapé de saída. Mazo era um centrocampista cuja técnica subtil se assemelhava a um rudimentar martelo de madeira. Mas vós quereis mais que uma simples metáfora, desejais tocar no âmago da questão como Luisões esbaforidos em direcção ao árbitro. Procurando um pouco mais, talvez vos depareis com este simpático senhor:

Pelo aspecto, até podia ser o Mazo que buscáveis. Mas não, este é somente um homónimo bielorrusso do Mazo que vós procurais. Um Mazo filarmónico, um pedagogo transcontinental, um bigode em si bemol. Estamos perto. O Mazo que pretendeis é este, senhores:

Oficialmente, Mazo responde pelo nome de Josemar Araújo Santos e é o tipo da esquerda; pelo sim, pelo não, também colocámos o Danny Trejo, pois podia subsistir a ideia de que o Danny é a versão envelhecida do vigoroso Mazo dos tempos áureos do Estrela da Amadora na Divisão-mor do nosso estimado campeonato.
Tempos áureos… e também tempos geriátricos.

Mazo era conhecido como o pistoleiro de Timbaúba, algures entre Camutanga e Macaparana, lá no Planalto da Borborema, em Pernambuco; Timbaúba, a terra de todos os sonhos, uma Sirinhaém em ponto maior, porém não tão grande quanto Jaboatão dos Guararapes. Ainda jovem, nem com 25 Outonos cumpridos, rubricou em 1994/95 a sua segunda e última época na terra outrora conhecida como Porcalhota (é verdade, até veio n´”Os Maias” e tudo – consultem os vossos Apontamentos Europa-América), completando assim uma torrente de toponímias esquisitas que lhe adocicaram o currículo.
Um benjamim, portanto. Naquele plantel, tal como num certo país atlântico nos dias de hoje, isso era presságio de desgraça. Atente-se nalguns outros bebés daquele plantel: Calado (palavras para quê?); Gil Gomes (é verdade, esse mesmo); João Peixe (primo do Emílio e que representou mais clubes do que aqueles que humanamente conseguiríamos reproduzir num único post); Tico-Tico (um moçambicano que prometia fazer cócegas à grandeza de Eusébio e que, estranhamente, nem sequer ficou para a história pelo inusitado do seu nome); Christian (teve de fugir dali enquanto era tempo mas ainda demorou alguns anos a recuperar do choque) e Paulo Ferreira (provavelmente, o extremo mais anafado de toda a história).
Decididamente, aquele clube não era para novos. A menos que se chamassem Rui Neves. Porque se se chamassem Birame, o mais certo era acabarem a vender artesanato senegalês na feira.
Aquele era o clube de Hubart (o Chilavert à moda da Bélgica), de Rebelo (o eterno estrelista que ainda hoje bateu à porta do Estádio José Gomes a pedir para treinar), do Senhor Bigode (leia-se Agatão) e também de Fonseca, Paulinho, Edmundo, Quim Machado, Fernando e Rui Águas – nenhum deles com menos de 28 anos e alguns com mais de 35 (o Rebelo já devia ir nos 55). Era um plantel com muita tracção defensiva e onde Mazo sentiu inesperadas dificuldades em assentar todo o seu reportório de maus tratos no esférico, certamente inibido pelo fulgor de um Taira, que fazia olhinhos marotos à Selecção, de um Koncalevic que possuía um nome balcânico que abafava aos pontos a singeleza da sua alcunha, ou de um superlativo Mário Jorge, que conseguiu a proeza de assinar pelo Sporting e Benfica sem nunca jogar nenhuma partida pelos dois.

Era o destino a empurrar Mazo para fora da ribalta e Mazo não foi contra o destino. Abraçou-o e, mal saiu da Amadora, desatou a correr clubes que ficassem, de preferência, na confluência dos distritos de Santarém e Portalegre – que, como todos sabemos, sempre produziram futebol condizente com o gabarito de Mazo. Por ali se deixou ficar como treinador. Sucumbiu à voragem dos tempos e disse adeus ao bigode. Agora, pode festejar os títulos distritais que quiser, mas, sem bigode, já não tem graça. O Danny Trejo é que a sabe toda.
Quanto ao Estrela, todos desejamos a sua recuperação. Até mesmo um conhecido galã da nossa praça:

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